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Caso Maria Nilce: força-tarefa de agentes federais mudou a investigação criminal no Estado

Há 5 anos


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A estruturação de uma força-tarefa composta por agentes federais para investigar as circunstâncias da morte da jornalista e colunista social Maria Nilce, assassinada em 1989, contribuiu em muito para transformar o modo de conduzir as investigações criminais no Espírito Santo, já que havia sérias denúncias de comprometimento de alguns poucos servidores das polícias Civil e Militar.

Com o método de trabalho puramente investigativo e livre da burocracia comum ao inquérito policial, a força-tarefa foi uma das primeiras a ser implementada no País.

A federalização da apuração investigatória do caso Maria Nilce ocorreu em resposta ao clamor popular e da sociedade organizada capixaba, além de requisitada pelo Ministério Público. O caso completa 31 anos neste domingo, dia 5 de julho.

“Foi um caso emblemático, sendo o marco de uma guinada nas apurações de outros crimes violentos até então sem a devida resposta de autoria no Estado. Foi a partir desse caso que o Espírito Santo conseguiu retomar as rédeas e o direcionamento das apurações criminais, resgatando em parte a credibilidade judiciária. Foi um golpe profundo no crime organizado que atuava no Estado, mais especificamente no tráfico de drogas, ‘jogo do bicho’ e pistolagem, com ramificações significativas dentro das instituições”, destaca Paulo Roberto Poloni Barreto, que é policial federal aposentado e esteve presente à época dos fatos.

“Se não fosse pela participação dos agentes federais através da força-tarefa, o caso Maria Nilce seria hoje o que é o caso Araceli”, afirma.

A força-tarefa, de acordo com Poloni, veio para criar uma situação de isenção e restabelecer a ordem pública, objetivando a chegar à verdade dos fatos. Segundo ele, naquela época, a Grande Vitória era considerada “terra sem lei”, dominada pelo chamado “Esquadrão da Morte” e com agremiações policiais de caráter duvidoso, como a Escuderie Detetive Le Coq.

“A impunidade era assegurada através das execuções sumárias, bem como nas conduções de inquéritos policiais instaurados para mascarar a verdade e desvirtuar os fatos”, relembra.

Legado

Na avaliação de Poloni, a instauração da força-tarefa no Espírito Santo para apurar o assassinato de Maria Nilce seria comparável ao que representa hoje a força-tarefa da Lava Jato, embora os objetos de investigação sejam diferentes.

“A atuação dos agentes federais no caso Maria Nilce e no combate ao crime organizado aqui no Estado foi um dos embriões para a investigação qualificada, em que se agregam diversas forças institucionais e de inteligência para, em conjunto, apurar uma determinada situação delituosa, hoje plenamente reconhecida e vitoriosa pela sua eficácia como é o caso da Lava Jato.”

Na época, todo o efetivo da Superintendência Regional da Polícia Federal no Espírito Santo participou de forma direta ou indireta, juntamente com os demais policiais oriundos de outros estados, atuando nas investigações e agregando as demais instituições em uma força conjunta, como Receita Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério Público, dentre outras.

Os acusados

Maria Nilce foi assassinada aos 48 anos, na Praia do Canto, em Vitória. De acordo com informações disponíveis no site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), ao fim das investigações, a força-tarefa da Polícia Federal, apontou como mandante o empresário José Alayr Andreatta.

Ele teria contratado o policial civil Romualdo Eustáquio da Luz Faria, o Japonês, para executar o crime. Por sua vez, Japonês teria subcontratado José Sasso e Cezar Narciso. Outro acusado no caso foi o piloto Marcos Egydio Costa, que teria auxiliado os pistoleiros em fuga em seu avião, levando-os para o Rio de Janeiro.

Araceli

O assassinato brutal da menina Araceli Cabrera Crespo, de 8 anos, permanece sendo uma das maiores incógnitas da investigação criminal no Espírito Santo. A Justiça chegou a três principais suspeitos. A princípio condenados, em um novo julgamento, os três foram absolvidos por uma nova sentença. Araceli se tornou símbolo do combate à violência contra a criança e o adolescente no Brasil.